quarta-feira, 20 de abril de 2011

A revolução da educação na era digital

O Metrópole Digital é um projeto para ontem. Para antes de ontem. Com o desenvolvimento da área de tecnologia da informação, o mercado de trabalho para programadores, especialistas em rede, entre outros profissionais tem uma necessidade urgente de mais recursos humanos. Segundo especialistas já existe uma carência de profissionais na área. O Metrópole Digital tem como um de seus principais objetivos formar novos profissionais de Tecnologia da Informação para diminuir a possibilidade de um “apagão de mão de obra” em alguns anos.

Iniciado em 2009, e prestes a formar a primeira turma, o Metrópole Digital alia formação de recursos humanos, pesquisa e empresas incubadas. Com tudo isso, espera-se criar uma espécie de pólo industrial no Rio Grande do Norte na área de tecnologia da informação. Para isso, há um curso de formação técnica para programadores e profissionais habilitados para trabalhar com a produção de placas eletrônicas como as que vemos em computadores, por exemplo. Além disso, o projeto congrega dois prédios, um voltado para a parte de software (programação) e outro para hardware (confecção de placas). Ainda há um forte viés de incentivo à formação de novas empresas.

A intenção é estimular vários processos, desde a formação de novos profissionais até a criação de novos produtos de tecnologia da informação, passando pela pesquisa acadêmica. Uma das evidências da integração entre essas áreas complementares é a própria convivência dos alunos: os adolescentes de formação técnica têm aulas e convivem com os alunos de pós-graduação; por conta disso, todos eles têm a oportunidade de se envolver com as pesquisas e também com a criação das novas empresas. “O projeto envolve os alunos de 14 a 18 anos, ainda no Ensino Médio, alunos de graduação, pós até chegar aos professores. Toda essa cadeia está envolvida”, explica Adrião Duarte.

Os dois prédios que irão abrigar o Centro Integrado de Vocação Tecnológica, voltado para a área de programação, com pesquisas e criação de novas empresas, e o Núcleo de Pesquisa e Inovação em Tecnologia da Informação estão atualmente em construção. Juntos os dois irão congregar mais de 20 laboratórios. “Teremos inovação tecnológica e incubação de empresas, formação e cursos de desenvolvimento tecnológico na área de software; e na área de hardware pesquisas e inovação em setores como robótica, sistemas inteligentes, processamento de sinais, sistemas embarcados, biométricos, etc”, detalha Adrião Duarte. E complementa: “Essa interação do mercado com a Universidade é que vai fornecer a mão de obra qualificada para desenvolver a tecnologia”

Um dos segmentos mais esperados, além da formação de profissionais de tecnologia da informação para atender à demanda do mercado já existente, é a formação de novas empresas a partir da inovação tecnológica. De acordo com o professor Adrião Duarte, essa ligação com o mercado é fundamental para transformar o Estado em um pólo de desenvolvimento na em tecnologia da informação. A chave do processo é “incubar” empresas. Nesse processo, novas empresas são criadas a partir das idéias dos alunos. “Os alunos pensam em um novo produto ou serviço e, a partir da orientação de um professor, a empresa é criada dentro do ambiente da universidade para explorar esse produto idealizado pelo aluno”, define Adrião Duarte.

Parceiros
O projeto Metrópole Digital é realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e deve sua criação a uma emenda do deputado federal Rogério Marinho. Há outros parceiros, como o Senai, responsável por abrigar algumas das aulas.

Primeira turma vai formar 900 alunos
A partir de maio, o mercado de tecnologia da informação do Rio Grande do Norte terá mais 900 profissionais habilitados, sendo metade na parte de programação e metade na área de prototipagem de placas de circuitos internos. Os alunos da primeira turma do Metrópole Digital estão atualmente em período de estágio nos laboratórios da própria UFRN, finalizando a formação técnica. Cerca de 70% das vagas foram destinadas a alunos de escolas públicas, que receberam uma bolsa mensal de R$ 150.

Os estudantes da área de software têm conhecimentos de programação para internet e produção de programas para computadores e outros equipamentos, como celulares. Já os alunos da área de hardware estão capacitados para construir, a partir de um projeto previamente definido por um engenheiro da computação, placas de circuito interno, como as que existem em computadores, modens, celulares e vários dispositivos eletrônicos. São os próprios estudantes os responsáveis por escolher qual das duas áreas seguir, após uma formação genérica que inclui português, inglês e cidadania.

A integração com o mercado de trabalho, já deficiente de profissionais qualificados, é a principal vertente do curso. Por isso, a escolha dos alunos foi realizada com base em testes vocacionais, preparados por alunos de Psicologia da própria UFRN, e privilegiou adolescentes que se interessassem pela área. “Não precisava ser alguém com conhecimento na área, necessariamente, mas que tenha aptidão. Nós tínhamos alunos que nunca tinham usado computador e ele vai sair habilitado para trabalhar com banco de dados, web, redes, etc”, aponta o professor Pablo Javier, um dos coordenadores do curso.

A primeira parte do curso foi realizada a distância, com aulas semi-presenciais de quatro horas diárias. Para isso, a Secretaria de Educação à Distância da UFRN estruturou a metodologia das aulas. Os alunos sem computadores em casa tinham acesso aos às aulas em salas especiais no Senac e no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do RN (IFRN). As aulas práticas na segunda parte tiveram espaço na Escola de Ciência e Tecnologia, com toda a parte laboratorial do curso.

No encerramento das atividades, o Metrópole Digital pretende promover uma “feira de empregos”, onde empresários do setor irão entrar em contato com os alunos do projeto.

Incubação de empresas é caminho para inovação
O caminho mais fácil para conseguir transformar a pesquisa em inovação tecnológica, principalmente na área de Tecnologia da Informação, é incubar empresas a partir das ideias dos alunos dentro da universidade. Esse processo ainda está no início do Metrópole Digital, mas conta com exemplos bem sucedidos nos cursos da UFRN. Três empresas foram incubadas no curso de Engenharia da Computação, todas no setor de educação e robótica. A meta agora é migrar com os projetos para o Metrópole, que em breve terá vários ambientes destinados somente à incubação de empresas.

O professor Gláucio Brandão é um dos principais incentivadores das empresas incubadas no Departamento de Engenharia da Computação. Ele acompanhou o processo das primeiras três empresas nascidas dentro da UFRN e explica como funciona: “A proposta é pegar idéias de estudantes e transformar em empresas. Pegar projetos inovadores e transformar em empresas nascentes. Lançamos um edital e sete empresas se inscreveram. Três foram selecionadas: Smartime, Roboeduc e Autosol. Todas na área de educação e engenharia, metodologia de ensino”, explica. “Qual a idéia? Veicular essa semente da inovação em toda a região, na Universidade e na cidade. Criar a empresa é agregar valor”, complementa.

As empresas nascentes são orientadas por professores da Universidade, constituídos como tutores. Esses tutores irão orientar o trabalho dos alunos. “Detecta-se uma idéia boa e isso é levado ao professor, que será o tutor. Ele vai dizer se a tal idéia tem possibilidade de ser viabilizada. Esse tutor é alguém mais experiente que diz: isso é viável, isso não é viável”, explica o professor Gláucio. A partir disso, a empresa é criada seguindo todos os parâmetros burocráticos. O curso de Contabilidade da UFRN dá suporte nessa parte. “Com um nome forte por trás como é o da Universidade, onde as pessoas sabem que a UFRN se responsabiliza por esse produto, é muito mais fácil. Os alunos recebem sala, secretária, estrutura, etc. Isso tudo facilita”, avalia.

Dentre as três empresas já incubadas, uma continua na UFRN, outra está de mudança para incubadora do IFRN e uma terceira a Roboeduc conseguiu se sustentar sem o apoio de nenhuma instituição de pesquisa. “As perspectivas são muito boas, porque é uma área em ascensão”, diz Gláucio Brandão.

A UFRN irá iniciar agora o processo de escolha, por meio de edital, de mais sete empresas incubadas. Existe também a possibilidade de abrir mais 12 vagas ainda esse ano.

Fonte: Tribuna do Norte