Legenda oculta mostra diálogo em cena da novela "Malhação"
Na
sala de espera do hospital, na padaria, no bar ou restaurante: você
bate o olho na televisão e lá estão aquelas legendas automáticas – por
vezes sem pé nem cabeça – mostrando o que é falado no programa exibido
naquele momento. É o recurso “closed caption” ou legenda oculta. Como
elas vão parar lá? Quem faz esses textos? Por que lemos tantos erros?
Veja a seguir essas dúvidas e outras curiosidades respondidas:
Como as legendas são feitas?
Os
textos são criados especialmente para pessoas com deficiência auditiva,
então têm de descrever, além das falas, ruídos ou sons de plano de
fundo. Tanto softwares especiais de reconhecimento de voz como “pessoas
de carne e osso” podem transcrever esses textos.
Máquina:
esse método é mais comum em programas gravados. O roteiro daquele filme
ou episódio é usado para guiar o trabalho de quem faz a legenda. Quem
legenda ouve o que é falado na cena e repete as frases devagar ao
computador com software que reconhece voz. Além disso, o profissional
insere as marcações de som (bater de palmas, risos, música de fundo).
Cada hora de vídeo vira de 3 a 5 horas de trabalho para fazer o closed
caption. Nos programas gravados, geralmente há revisão das legendas
antes da digitalização. (Ao lado uma figura em: Modelo de estenótipo
digital comumente utilizado para transcrição de
legendas de vídeos na TV. O aparelho envia o texto direto para o
computador)
Homem:
esse método é mais comum em programas ao vivo. Um jornal, por exemplo,
pode ser legendado de acordo com o fornecimento do texto do teleprompter
(aparelho que mostra o que os apresentadores têm de narrar). Quando o
repórter entra ao vivo, a legenda fica a cargo de um estenotipista
(profissional que usa um estenótipo digital, máquina desenhada
especialmente para a digitação rápida de palavras, com número reduzido
de teclas, que envia as legendas direto ao computador). Muitas emissoras
brasileiras utilizam essa técnica para programas gravados também.
Por que encontramos tantos erros nas legendas ocultas?
Nem
sempre o software transcreve corretamente as palavras ditas e também há
dificuldade em registrar o que pessoas falam ao mesmo tempo. No caso do
estenotipista, apesar de o profissional ser treinado para transcrever
as frases corretamente, erros também podem ocorrer, dada a alta
velocidade de digitação.
Mas
só isso não explica tudo, diz Leonardo Coelho David, fundador da Closed
Caption Brasil. “Isso ocorre porque no Brasil não há uma preocupação
como nos Estados Unidos em produzir legendas de qualidade. As emissoras
deveriam contratar especialistas no assunto e melhorar o padrão de
qualidade. Não se respeita o direito das pessoas portadoras de
deficiência auditiva”, reclama.
Software utilizado durante o processo de inserção das legendas ocultas em programas de TV
Como a legenda vai parar na televisão?
A
imagem que vemos na televisão é composta por um grande número de linhas
verticais e horizontais (um aparelho de alta definição, por exemplo,
apresenta 1080 linhas). Na chamada “linha 21” é feita uma espécie de
interrupção do sinal para a próxima linha (o termo técnico é “intervalo
de apagamento vertical"), onde são inseridos os dados das legendas, que
não aparecem de imediato na imagem, daí o nome “legenda oculta”. A
informação fica contida no sinal enviado à TV até sua casa, basta
acionar o botão do controle remoto (também existem aparelhos
decodificadores de closed caption, menos comuns) para visualizá-las.
Saiba outras curiosidades
Como surgiu?
A
ideia de criar as legendas ocultas surgiu há cerca de trinta anos, nos
Estados Unidos, explica David. “Naquela época, a intenção era auxiliar
pessoas com deficiência auditiva a acompanharem os programas. Em 1976, a
Comissão Federal de Comunicações regulamentou as transmissões com
closed caption, que passaram a ser usadas em programas gravados. As
legendas ocultas só chegariam a programas ao vivo em 1982, na
transmissão da Cerimônia do Oscar.
Como veio parar no Brasil?
David
conta que, no início dos anos 90, tentou oferecer a tecnologia de
captura de legendas para uma grande emissora no Brasil, mas não houve
interesse. Foi a partir de 1997 que o uso de legendas ocultas começou a
crescer nas emissoras: naquele ano, o Jornal Nacional, da Rede Globo,
passou a usar o recurso.
O closed caption é obrigatório no Brasil?
Sim,
a portaria 310/2006 do Ministério das Comunicações estabelece que em
2012 as emissoras reservem 12 horas de programação com recursos de
acessibilidade, entre eles o da legenda oculta. A partir de junho deste
ano, essa a reserva sobe para 14 horas de programação. A partir de 2017,
a totalidade da programação deverá conter os recursos de
acessibilidade. No entanto, o projeto de PL 2.462, do deputado Ricardo
Izar (PSD), em tramitação na Câmara dos Deputados, quer impor um novo
cronograma de adoção de percentuais mínimos de programas com closed
caption.
Símbolo da ''Closed Caption'', também chamada de legenda oculta, é mostrado no vídeo para indicar a disponibilidade do recurso
As legendas servem apenas para deficientes auditivos?
Não,
além das pessoas que possuem algum tipo de deficiência auditiva (no
Brasil, eles são 9,8 milhões, segundo dados do IBGE-2010), as legendas
ocultas também ajudam, diz David, idosos, que sofrem a perda natural da
capacidade auditiva com o avançar da idade; crianças em alfabetização;
analfabetos em processo de aprendizado da língua.
Além
dessas pessoas, já é comum encontrar televisores em locais públicos e
barulhentos com o recurso ligado, como bares, restaurantes, salas de
espera etc.
Todas as TVs têm o recurso Closed Caption?
Atualmente,
sim. Para terem a habilidade de mostrar as legendas, os televisores
necessitam de um circuito eletrônico especial, que nos Estados Unidos
desde os anos 90 é inserido nos aparelhos. Essa tecnologia acabou sendo
repassada às fábricas no mundo.
Como as emissoras de televisão contratam esse serviço?
Segundo
David, existem várias empresas no Brasil que oferecem o serviço de
closed caption e, normalmente, essas companhias são ligadas a emissoras
de TV e produtoras de vídeos.
Fonte: UOL/Tecnologia