sexta-feira, 13 de maio de 2011

Arte tecnológica chega a Natal

Digital, cibernética, tecnológica, computacional, midiática, eletrônica, novos meios... impossível enquadrar em apenas uma palavra o conceito artístico dos trabalhos presentes na exposição “10ª Dimensão Sistemas, Circuito e Fluxos”, em cartaz até hoje, das 10h às 17h, no IFRN-Cidade Alta. A mostra reúne em Natal, de forma meteórica, sete obras que podem ser encaradas pelo visitante como objetos e/ou instalações, imersivas e/ou interativas, mas, sobretudo, lúdica, sensorial e dialética. Sem exageros, a vanguarda da contemporaneidade! (Ao lado uma imagem: Breathing, de Guto Nóbrega, é uma criatura híbrida capaz de gerar comunicação entre um organismo natural (planta) e um sistema artificial).

Ponto culminante do projeto “10 Dimensões, diálogos em rede, corpo, arte e tecnologia”, desenvolvido ao longo do ano a partir da parceria entre UFRN, IFRN, UFPB e Fapern, a iniciativa “aproxima os artistas visuais natalenses deste campo da arte que investiga, produz e concebe trabalhos que unem tecnologia e arte”, explica a professora do Departamento de Artes da UFRN Laurita Salles, curadora da mostra, que conversou ontem à tarde com o VIVER. “Os trabalhos expostos representam um recorte singelo, mas significativo, dessa abordagem artística. E não se trata apenas de obras interativas, elas representam novas possibilidades da relação entre tecnologia e o agente humano. Nada acontece sem a presença do interato (visitante). É um campo de possibilidades convidativas e fascinantes”, complementa.

Questionada sobre a curtíssima duração da exposição, aberta apenas dois dias para visita, Laurita falou sobre a série de questões que envolvem a produção: “Temos poucos recursos, e como os próprios artistas estão trazendo as obras não precisamos pagar o seguro. Outro detalhe é a falta, em Natal, de um lugar com estrutura adequada para receber esse tipo de mostra. Se querem qualificar o turismo e o turista que visita a cidade, os gestores precisam começar a investir em Cultura, em espaços culturais – por exemplo, seria perfeito se pudéssemos expor no Parque da Cidade, no alto daquele monumento projeto por Niemeyer”, aponta.

A vanguarda da arte

De acordo com a professora, a parceria com o IFRN-Cidade Alta foi fundamental para contornar algumas dessas dificuldades: “Estamos utilizando um espaço adaptado, com mão de obra de alunos do curso de produção cultural (recepção, monitores) – de certa forma, também estamos contribuindo com a formação profissional deles. Aqui também temos segurança, uma rede elétrica sem oscilações e o apoio do diretor Lerson Maia, que tem experiência acumulada em São Paulo como produtor de exposições”.

Em “10ª Dimensão – Sistemas, Circuito e Fluxos”, o visitante poderá interagir com a escultura virtual “Vitalino”, um cubo que se molda em um telão a partir da interferência captada por webcams; conferir composições sonoras criadas instantaneamente a partir de palavras citadas e interação com posts no twitter; verificar as interferências captadas no ambiente e traduzidas em forma de sons; ou presenciar o sistema híbrido que interliga as reações de uma planta a um robô.

Complexo? Ou será a materialização artística de atividades corriqueiras já incorporadas ao nosso cotidiano? Imagine procurarmos explicações e acompanharmos todos os procedimentos desencadeados a partir da compra com um cartão de crédito? Ou o pagamento de uma conta pela internet?

“Há toda uma postura ativa nessas atividades, que envolvem um fluxo de informações inimaginável. Existe um fetiche tecnológico que, nesta exposição, conquista as pessoas pelo lado lúdico. É a utilização poética da tecnologia”, diz Fábio Oliveira Nunes, coordenador da exposição e também professor do Dearte/UFRN. “Todos os artistas que estão expondo aqui são pesquisadores, tem ligação acadêmica”.

Sobre a planta, o autor Guto Nóbrega explicou que “acima da interatividade, tem o diálogo entre os sistemas. As micro variações elétricas são amplificadas e provocam reações robóticas, como se a planta fosse uma antena orgânica super sensível”, simplifica o artista.

O projeto “10 Dimensões, diálogos em rede, corpo, arte e tecnologia” também envolveu ciclo de debates e os planos é que continue em atividade por mais um ano. A exposição conta com apoio da Fundação José Augusto e da Funcern (Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do RN) e foi viabilizada através do fomento do Ministério da Cultura e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Mais informações através do site www.10dimensoes.net.

Fonte: Tribuna do Norte