terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Interatividade será o futuro da TV no Brasil

Interatividade na TV Digital brasileira depende apenas de esforços do governo e das emissoras; atualmente a Internet TV supre o papel da interatividade.

A festa de lançamento da TV Digital no Brasil, em 2008, veio também acompanhada de promessas. À época o Governo Federal informou que até 2016 a transmissão analógica seria desligada em todo o país e que teríamos então uma revolução no sinal digital.

Passado quase 3 anos da implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) alguns avanços já foram bem recebidos pela população, como a mobilidade e a possibilidade de assistir a televisão aberta onde estiver.

Um dos objetivos do SBTVD é seu uso para a inclusão social e digital. Isto porque a televisão, diferentemente da internet, está presente quase que na totalidade dos lares brasileiros.

Utilizar este meio para criar uma integração entre telespectadores, governo e emissoras acredita-se que trará um impacto maior à sociedade, ajudando a desenvolver o país econômica, social, tecnológica e educacionalmente.

E a principal voz para a concretização deste ideal é a entusiasta promessa de implementar um sistema de TV Digital Interativa (DTVi), que permitirá criar novas formas de conteúdo utilizando um modelo único e proprietário.

Tecnologia brasileira

Uma das apostas do governo brasileiro foi adotar um sistema interativo próprio, um middleware chamado Ginga, desenvolvido em conjunto pelo laboratório TeleMídia da PUC-Rio e pelo Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAViD) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Middleware é uma camada de software que dá suporte ao desenvolvimento de programas não-lineares e torna a sua exibição possível independente do dispositivo utilizado. E o Ginga é o primeiro padrão internacional de interatividade para a TV Digital, com tecnologia brasileira.

“Hoje o que vemos na televisão analógica são programas lineares, compostos de áudio e vídeo. Uma transmissão interativa utilizaria um fluxo de exibição não-linear, com caminhos alternativos apontando como e quando um conteúdo deve ser exibido”, exemplifica o Prof. Luiz Fernando Gomes Soares, Coordenador do Laboratório TeleMídia da PUC-Rio.

O problema do Ginga é que por ter sido desenvolvido para auxiliar na interatividade com a televisão aberta, por enquanto a comunicação entre telespectadores e emissoras ainda é feito através da conexão via internet, configurando um outro tipo de Interatividade Conectada, com as internet TVs.

Desta forma corre-se o risco de se criar um novo tipo de exclusão digital, o que não convém com as teorias do SBTVD.

Experiência estendida

A responsabilidade de levar a interatividade aos telespectadores é das próprias emissoras, porém o que vemos é o crescimento dos televisores conectados, onde fabricantes de TV e empresas de conteúdo oferecem aplicativos e widgets ao usuário como forma de interação.

“Não existe uma conversão unificada, cada fabricante oferece um padrão e cria-se uma tendência de fragmentação que é difícil de controlar, como acontece com os celulares e smartphones”, alerta o Prof. Marcelo Zuffo, Coordenador do Laboratório de Sistemas Integrados (LSI) da Universidade de São Paulo (USP).

Embora essa tendência possa desvirtuar o objetivo real que é a interatividade através da radiodifusão, os televisores conectados podem ajudar a disseminar este novo modelo de negócios e conteúdo. Padrões diferentes podem trazer mais modelos de negócios e os parceiros podem avaliar as opções e possibilidades, cabendo ao fabricante facilitar e adaptar o conteúdo à linguagem existente.

“[A interatividade] É um modelo que vai crescer. Primeiro as empresas e emissoras precisam aprender como usar e o que pode ser feito com a tecnologia. Já temos o software e agora precisamos de mais aparelhos de TV preparados para isso”, afirma Kalled Adib, Superintendente de Operações da Rede TV.

A fragmentação dos modelos de televisores é normal e parte do esforço do fabricante de ter seu espaço. Agora é preciso encontrar uma forma de participar da programação sem que a atenção do espectador fique dividida entre jogos, aplicativos e noticiário.

“Falta ainda a massificação dos dispositivos habilitados para tal tecnologia e um pouco de ineditismo e inovação no formato atual de fazer televisão, quebrando paradigmas e aceitando as novas tecnologias como um aliado à diversificação e conquista de novos telespectadores”, aponta Luis Renato Olivalves, diretor de interatividade da Band.

O problema é que a televisão não pode ser tratada igualmente a internet. Ela deve ser entendida como um complemento à programação de TV, especialmente em programas ao vivo. Cabe a emissoras e fabricantes explorarem os conteúdos para serem utilizados de outra forma.

No momento atual é preciso priorizar ofertas de interatividades simples, mas relevantes como em qualquer introdução às novas tecnologias. Será necessário ensinar e educar o telespectador a usar os recursos para que possam então enxergar os benefícios e a partir daí aproveitar-se deles.

“O consumo de mídia é diferente em todas as plataformas. A TV exige um cuidado maior por ter mais visibilidade. Para agregar portais, redes sociais, vídeos, fotos, filmes, é necessário entender a forma de consumo”, completa Daniel Almeida, gerente de produtos de TV da LG.

Futuro da interatividade

Com a aposta dos fabricantes de TV na conectividade, os televisores mais recentes lançados este ano já trazem um hardware mais avançado, preparado para gerar essa integração aliada à alta qualidade.

“Seguindo as leis impostas pelo governo para a adoção da TV Digital, todos os televisores LCD acima de 32 polegadas já trazem decodificador digital embutido. Para 2011 serão os modelos acima de 26 polegadas. E isso já mudou a percepção das emissoras e empresas de que vale a pena investir na digitalização e interatividade”, afirma Rafael Cintra, gerente sênior de TVs da Samsung.

Mas para o modelo de interatividade aberta crescer da mesma forma ainda será preciso aguardar. Isto porque o formato da radiodifusão hoje no país não possui respaldo técnico para gerenciar o retorno do sinal interativo durante a transmissão de algum programa.

Hoje a radiodifusão apenas entrega o conteúdo aos televisores e mesmo em programas ao vivo que disponibilizam uma interatividade com o telespectador o retorno é feito pelo sinal telefônico, criando uma espécie de interatividade passiva que só recebe informações adicionais, mas não as compartilha.

Para mudar esse cenário a radiodifusão teria de se reinventar. Criar legislações específicas e alterar obstáculos em leis antigas como a Lei Geral da Comunicação de Massa, que data de 1967 e notavelmente não segue os padrões tecnológicos de hoje e burocratiza o acesso a inovações.

E como a TV aberta também não tem custos ao telespectador, os gastos gerados às emissoras dependem de parcerias e modelos de negócios que viabilizem novos programas ou projetos. “O modelo ideal seria viabilizar a transmissão ida e volta da interatividade gratuitamente”, explica Abid.

Mas não é uma tarefa fácil, especialmente quando falamos de mudar leis ou esperar que modelos de negócios agreguem renda sem cobrar nada do consumidor final. Mas a maioria dos especialistas tem a mesma expectativa com relação ao futuro desse modelo no país.

Com a previsão de desligamento do sinal analógico em 2016, muitos acreditam em uma proeminência da radiodifusão e na demanda por conteúdos informativos.

E com o sucesso que o modelo do SBTVD vem alcançando em todo o mundo é possível que já em 2011 começamos a ver do que nosso sistema interativo será capaz, com emissoras apostando em interação a partir de programas ao vivo como reality shows e a venda de produtos.

Até 2016 dependeremos das emissoras em nos trazer mais conteúdos interativos. “Hoje temos muitos canais e pouca diversidade de programação. Não adianta ter 50 canais sem conteúdo”, avisa o Prof. Zuffo. “Mas a TV Interativa já é um meio sem volta”, conclui.

Fonte: Info e Grupo Ginga Góias