sábado, 12 de dezembro de 2009

O futuro agora


Passava pouco das 6 da tarde de 21 de julho quando uma luz vermelha piscou e um alarme disparou no telão de quatro metros quadrados do CCO (Centro de Controle Operacional) da Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, o conjunto de rodovias que liga a capital paulista ao litoral sul do estado. Um carro na contramão descia pela pista esquerda do túnel. O risco de acidente era iminente. Assim que o alarme piscou na sala de comando, bastaram dois minutos para que o túnel fosse fechado, o carro retirado e o motorista levado pela Polícia Rodoviária. Tamanha rapidez só foi possível com a ajuda da tecnologia. A Ecovias possui 133 câmeras espalhadas pelos 176 quilômetros de estradas. Além disso, utiliza sensores em seus três túneis, que chegam a 8,2 quilômetros de extensão. Esses sensores são acompanhados de um arsenal de programas que reconhecem a velocidade e o sentido do tráfego. Se algum veículo para na estrada ou anda na contramão, um alarme é disparado.

Passam pelo sistema Anchieta-Imigrantes 80 mil veículos, em média, por dia. Nos feriados, o número pode chegar a 700 mil. “Com o movimento que temos e a complexidade da operação, é impossível dispensar a tecnologia”, afirma Humberto de Souza Gomes, diretor-superintendente da Ecovias.

O sistema que monitora o fluxo de veículos na rodovia paulista é um exemplo da contribuição da tecnologia para as metrópoles. Não é exagero afirmar que a partir de agora ela será cada vez mais necessária. “As cidades estão ficando mais populosas e as mudanças climáticas ainda vão exigir um uso cada vez mais eficiente dos recursos naturais”, diz Sérgio Boanada, diretor de negócios da Siemens, fabricante de origem alemã que mantém um blog, o Megacidades, para discutir problemas urbanos.


ONDE COMEÇA O CAOS
Um levantamento conduzido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) revela que, até 2030, 5 bilhões de pessoas, o equivalente a 60% da população mundial, viverão nos centros urbanos. Em 2050, esse percentual subirá para 70%. Além disso, já no próximo ano, 59 cidades do mundo terão mais de 5 milhões de habitantes. No Brasil, duas delas ultrapassam esta marca: São Paulo, com 11 milhões de pessoas, e o Rio de Janeiro, com 6,2 milhões. “A partir dos 5 milhões de habitantes começa o caos urbano. É nesse ponto que os congestionamentos se tornam rotina, os apagões são mais frequentes e a qualidade de vida diminui significativamente”, diz Carlos Tunes, líder de software da IBM e especialista em sistemas inteligentes de transporte e gerenciamento de tráfego.

Mas como evitar ou tentar reduzir os efeitos desse crescimento? No que diz respeito ao consumo dos recursos naturais, a ordem é controlar. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) está correndo atrás desse controle. Criou dois sistemas de monitoramento do consumo: um para os clientes residenciais e outro para as empresas. Para os usuários residenciais, foi implantada a medição individualizada, uma tecnologia capaz de aferir separadamente o consumo de apartamentos ou casas de condomínios. Assim, no lugar do rateio do consumo total, cada morador paga pela água que consome.

Mas para ter esse sistema funcionando, é necessário que cada apartamento tenha o próprio hidrômetro para leitura do fluxo de água, o que significa quebradeira para a instalação. Esse hidrômetro transmite as informações em tempo real para um concentrador (espécie de computador com o tamanho de um livro), em geral localizado na portaria do prédio. No momento de fazer a verificação do consumo, o funcionário não precisa visitar cada um dos apartamentos. Basta ir até o concentrador e digitar o número correspondente. No mesmo instante a conta é gerada numa impressora portátil e entregue ao porteiro. A mesma separação poderá ser feita em casos de falta de pagamento. Se um apartamento não quitar sua conta, será possível cortar o abastecimento de forma pontual.

Os moradores também podem fazer consultas e verificar seu consumo de água. Recém-criada, a tecnologia funciona em três prédios da capital. Outros estão na fase final da adaptação hidráulica. A expectativa da Sabesp é que, até o final do ano, 5 mil condomínios estejam utilizando a medição individualizada.

Para as empresas, a novidade da Sabesp é a telemedição, um sistema que apresenta o consumo de água em tempo real pela internet. Caso o consumo esteja acima do normal, um alerta é enviado por SMS (mensagem via celular). “Sem esta tecnologia, o cliente corre o risco de detectar o vazamento somente quando a conta chegar com um valor muito acima do normal”, afirma Regina de Almeida Siqueira, superintendente de planejamento e desenvolvimento da regional metropolitana da Sabesp.

A solução por enquanto é exclusiva de 3 mil empresas, que fazem o acompanhamento via internet. Nos hidrômetros há um concentrador que lê o consumo de água e manda as informações para os servidores da Sabesp por meio do celular. Seja no mundo corporativo ou dentro de casa, a rede celular tem ampliado sua popularidade. Estudo feito pela consultoria Teleco aponta que existem no Brasil 4 milhões de acessos à internet por banda larga móvel. Em 2014, serão 60 milhões. “Com tamanha penetração, os celulares podem ser o substrato para aumentar a inteligência no planeta”, diz Fabio Gandour, cientista-chefe da IBM.

Fonte: Época/Tecnologia