domingo, 13 de dezembro de 2009

De diferentes gerações, apresentador e cantor contam suas experiências na web

A internet completou 40 anos em 2009, mas, no Brasil, a rede só chegou com força há cerca de 14 anos. Hoje, já se pode falar em mais de uma "geração" de internautas, com diferentes pontos de início e graus de exposição à cultura digital. Para falar um pouco sobre suas experiência na web brasileira, o G1 convidou para um bate-papo o cantor Jorge Aragão e o jornalista Tiago Leifert.

Aos 60 anos, o cantor Jorge Aragão não quer perder tempo e busca conhecer qualquer novidade de tecnologia e da internet. Tanto que ele conta até mesmo com a forcinha de um "personal tech", um especialista em tecnologia que dá as principais dicas sobre as novidades da área. "Ele sabe o que eu preciso, busca as informações para que eu possa me sentir à vontade dentro desse mundo", diz o sambista, sobre Marcelo Lobo, seu braço "cibernético" direito há quatro anos. "É como um anjo da guarda. A palavra dele é lei!".

Já o jornalista Tiago Leifert, de 29 anos, lembra que teve seu primeiro contato com a web no final dos anos 1990, em um shopping de São Paulo. “Eu fui lá e era caro para caramba. Sentei em frente ao computador e não sabia direito o que fazer, nem como usar aquilo”, conta o apresentador do Globo Esporte, que começou a procurar por sites de marcas famosas. “Também acessei endereços como os da CIA, FBI e NASA. Achei legal. Nunca imaginei que chegaria ao que a internet é hoje”, admite.

“Tentei mandar um e-mail para o Jô Soares. Abri o browser, que era o Explorer, e escrevi o endereço do e-mail dele no lugar do endereço das páginas WWW”, conta o jornalista. “Achei estranho porque não apareceu nenhum campo de texto para eu poder escrever a mensagem. Tentava enviar e não ia. Não entendi o que estava acontecendo. Demorei muito para saber que era preciso ter uma conta de e-mail para poder enviar mensagens. Paguei mico mesmo”, acha graça.

Aragão, ao contrário, diz não se lembrar de nenhuma experiência desse tipo, mas atualmente considera o e-mail parte importante da sua vida pessoal e profissional. "Passo a noite navegando. Vejo os e-mails, pego música por e-mail, faço a letra, mando de volta...", explica o cantor, revelando que a internet o ajuda no seu processo criativo, ao mesmo tempo em que traz um paradoxo. "Com a internet não tenho mais o tempo ocioso. E eu dependia do ócio para criar".

Depois de criar um perfil no Facebook, Aragão escolheu a bola da vez: o Twitter. "Os meninos dos Detonautas criaram um Twitter para mim. Vou descobrir, tentar saber mais. O que sei é que as pessoas ficam me seguindo, como rabo de cometa", diverte-se. “Entrei uma vez só, mas senti que abriu tanto a conversa com outras pessoas”.

Da época do computador "de furar cartões", Aragão revela uma grande necessidade de saber o que está acontecendo. "Está me dando uma vontade danada de falar inglês, agora aos 60 anos". Enquanto não encara as aulas, o sambista banca o poliglota com a ajuda de um tradutor on-line. "Com o Google Translator ‘falo’ em japonês, francês, africano. Não sei o que está saindo do lado de lá, mas estão me entendendo”, conta, maravilhado. “Parece até que eu vou chorar de tanta emoção que é... Será que é isso que é a tal da globalização?", questiona.

O jornalista, que já foi DJ no finzinho dos anos 1990, aproveitou o boom do MP3, depois de descobrir os programas específicos para baixar e tocar música. "Foi um processo de autoaprendizado que levou tempo, mas que realmente mudou tudo para os DJs e quem gosta de música", afirma Leifert, emendando uma pergunta para Aragão: "você vende sua música na internet hoje?".

“Não, ainda não. Tenho conversado isso com o pessoal da gravadora. Começamos a vender música para celular (ringtones). Mas sempre a minha preocupação foi 'é legal fazer isso?'.Eu gosto da coisa que pode ser feita direito, dentro da legalidade”, disse Jorge Aragão, acrescentando que ainda não vende sua obra na web porque no início tinha o medo de estar sendo ilegal. “Mas eu vou negociar mesmo via internet as músicas”, afirmou.

A internet também agrada Aragão por um lado inesperado. "Como é bom ver o pessoal descendo o cacete em mim?", surpreende o sambista. "Achei legal a experiência. Também pude entrar num lugar em que não sou bem quisto", avalia. "Mas não estou me passando por ninguém a não ser eu mesmo", faz questão de ressaltar.

Essa "falsidade ideológica" possibilitada pela internet também é alvo de preocupação do sambista. "Isso é ruim na internet. Alguém tomar a sua identidade, e, pior, na cara de pau mesmo", reclama o sambista, enquanto avisa que não tem perfil no Orkut.

"Quanta gente conhecida falando coisas para ele [o fake]. É muito ruim se apoderar da identidade de uma pessoa. Alguma coisa tem de errado nisso. Com certeza já fui prejudicado e não sei", diz o cantor.

"Um panaca desse [fake], diz que sou eu, fala do que eu gosto de comer, das minhas filhas e tal. E eu não posso dar um cascudo nele, porque não posso encontrar com ele", reclama o sambista, com bom-humor.

Leifert também não gosta quando usam sua identidade para enganar pessoas na web, mas admite que, dependendo do caso, até aprovaria um fake. “Se fizerem um Twitter falso meu para ser humorista eu iria adorar. Mandaria mensagens para ele, vou ajudar”, garante ele que tem vários fakes “sem graça” pela rede. “Tentei combater alguns no começo, principalmente no Orkut. Mas não dá. Então, o que eu fiz: tenho contas oficiais no Orkut, no Facebook e uma no Twitter. Quem quiser me encontrar, com um mínimo de investigação, vai conseguir”, aposta.

Para o jornalista, já é hora de organizar a quantidade de informações no mundo. “Imagino que o browser vai virar um agregador. Você vai abrir um grande painel de controle e nele você vai ter seu Twitter aberto, seu MSN, todos os seus amigos conectados e seus sites favoritos em uma coisa só. Você vai começar a restringir sua navegação e deixá-la mais fácil”, aposta.

Fonte: Globo/Tecnologia