domingo, 21 de junho de 2009

Serviço 3G é enganação das operadoras de celular

Quando se trata de explicar os planos oferecidos para acesso à internet móvel, os números do contrato são precisos: você pode escolher desde a velocidade de acesso de 250 Kbps (quilobits por segundo) a 1 Mbps (um milhão de bits por segundo, ou um megabits) ou por quantidade de informação que quer baixar, a partir de 50 MB (megabytes).

Para cada velocidade, o consumidor deve pagar uma mensalidade e um modem, geralmente mais barato quanto mais caro é o plano. Ele funciona como bônus para que o cliente fique preso à operadora por 12 meses.

Mas se você perguntar para o vendedor se aquela velocidade ou pacote de downloads correspondem, de fato, ao praticado na vida real, a palavra de ordem é: "oscila". "A gente garante, mas oscila. A velocidade está super boa. Pode ser que passe, fique ótima, mas muda de acordo com a localidade", explicou a vendedora da Vivo.
"A de um mega a maior parte do tempo é realmente um mega, mas pode oscilar devido ao mau tempo, à chuva e à localidade", informou a atendente da Oi. O atendente da TIM foi direto: "Nenhuma das operadoras de Natal funciona 100%". Para a Claro, a velocidade de um mega "oscila entre 750 e um mega de acordo com a localidade".

Para responder à questão com maior precisão, os atendentes perguntam o endereço do cliente, mas esquecem de pesquisar onde ele pretende usar a internet móvel. No Rio Grande do Norte, a tecnologia de terceira geração (3G) só pode ser acessada na Grande Natal (a Vivo mencionou que em Mossoró "está começando a operar"). Nas demais cidades, a velocidade se assemelha à da internet discada (algo em torno de 100 Kbps) . As operadoras receberam um ultimato até dezembro de 2010 para cobrirem todo o território nacional.

"No Brasil, as operadoras vendem o 3G como internet para se usar em casa substituindo o acesso banda-larga via cabo ou DSL(velox) . Essa tecnologia foi criada para uso eventual e voltado para mobilidade, como checar e-mails ou ver um vídeo. A tecnologia sem fio que compete com o Cabo/Velox é o Wimax. Esse sim foi feito para velocidades de 100Mbps de uso intenso", explica Gustavo Diógenes, diretor técnico da Diginet. "Existe um limite de pessoas que podem usar o 3G numa determinada área. Se todo mundo usa o tempo todo, sobrecarrega".

Esse é o caso do estudante Artur Dantas. Ele já acessava internet de casa via cabo, mas resolveu substituí-la pela tecnologia 3G para poder navegar da praia de Pitangui, a 30 Km de Natal, onde costuma passar os fins de semana.

"O serviço é horrível. Eles disseram que pegava na Grande Natal, mas fiz o teste na praia e não deu certo. A velocidade nunca chegou aos 500 Kbps, que foi o valor que eu comprei", reclamou, acrescentando que escolheu aquela velocidade porque o vendedor disse que ela poderia oscilar "para mais". "Ele disse que a de um mega não oscilava para mais, mas o de 500 poderia chegar a 750 Kbps".

Artur Dantas tentou devolver o modem depois de três dias da aquisição, mas foi convencido pelo vendedor a passar mais uma semana. Passados sete dias, a operadora não aceitou a devolução. Ele resolveu então pagar os R$ 299 pelo modem e entrar na Justiça para se livrar da mensalidade. "Tentamos a rescisão de contrato, mas a multa é um absurdo".

Depois de uma audiência infrutífera no Procon - a operadora tentou se justificar dizendo que o serviço estava "em expansão" -, o estudante tentou o Tribunal de Pequenas Causas, mas desistiu por conta da burocracia. "De início, eu teria que arrumar três testemunhas que tivessem presenciado minha irritação". Ele tenta agora o Tribunal Online.

Para Gustavo Diógenes, se as operadoras continuarem oferecendo a internet móvel como melhor opção de banda larga para uso em casa ou no trabalho, não haverá expansão que dê conta da demanda. "Essa é uma tecnologia para acesso eventual. Não é rentável para as operadoras cobrir a cidade de antenas na tentativa de oferecer um bom serviço."

O arquiteto e professor da UFRN Fernando Costa inicialmente adquiriu o 3G para navegar em casa, mas acabou substituindo o acesso pelo Velox. Ele lança mão da internet móvel quando o servidor do trabalho está lento ou quando sai de Natal. "Para viajar, é uma maravilha".

No contrato, operadoras garantem apenas 10% da velocidade

De acordo com Jorge Alberto Madruga, coordenador geral do Procon estadual, as operadoras têm que garantir o serviço vendido. "Eles têm que oferecer aquilo que está no contrato, ou então discriminar que em determinado horário, em determinado local, a velocidade pode diminuir para um valor x".

"É como comprar feijão: não dá pra comprar um quilo e receber 500 gramas", compara Dary Dantas Filho, coordenador de operações e normas do órgão.

Para Lívio Peixoto, gerente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no Rio Grande do Norte, a internet requer uma relação de consumo diferente. "Em internet, ninguém pode garantir uma velocidade. O que se pode garantir é até aquela velocidade, porque ela vai depender de várias circunstâncias, como a quantidade de pessoas que estão conectadas. Os usuários têm que estar atentos ao contrato".

As operadoras são orientadas a garantir, por contrato, apenas 10% da velocidade que vendem. Na prática, isso significa que os consumidores que comprarem o plano mais caro, de 1 Mbps, recebem o direito de ter a mesma velocidade do acesso discado (100 Kbps).

De janeiro para cá, o Procon registrou 65 reclamações só em relação ao 3G, implantado em setembro do ano passado. Nenhuma operadora foi multada até o momento, mas os processos estão em andamento. "É importante que as pessoas reclamem ao Procon. A gente sabe que de cada 100 pessoas prejudicadas, apenas uma nos procura", diz Madruga.

Os consumidores também devem informar qualquer abuso à Anatel pelo número de telefone 133.

O futuro está no Wimax móvel

A chegada da tecnologia Wimax móvel, prevista para o próximo ano, oferecerá uma alternativa mais rápida e segura à internet móvel em Natal. A transmissão do sinal é bem parecida com a de um telefone celular, onde uma torre central envia o sinal para várias outras torres espalhadas, que multiplicam o sinal para chegar aos receptores, como uma gigantesca e estável rede Wi-Fi.

O usuário precisará de uma pequena antena receptora, que poderá ficar no topo de um prédio (multiplicando a conexão para o condomínio, por exemplo) ou ao lado do gabinete do PC , como se fosse um equivalente ao modem externo usado pro Velox. No caso do notebook, um modem.

Apesar de a velocidade continuar dependendo de acidentes geográficos e do número de usuários, ele foi pensado para chegar até 100 Mbps, e por isso garante um acesso mais rápido mesmo quando há muitas pessoas conectadas.

A Diginet já oferece uma espécie de "pré-Wimax", que conecta torres independentes à internet via cabo através de fibra óptica. A velocidade chega a 10Mbps.

Fonte: Nominuto