O
Surface, um tablet-meio-laptop que quer ser o futuro, entra em
pré-venda hoje. E nós pudemos ver os bastidores (e tocar um pouco
nele!), com acesso a laboratórios secretos da Microsoft onde nenhuma
outra pessoa (além de funcionários) pode entrar. Então, você deve
comprar uma Surface? Muito provavelmente ele parece fantástico.
Pelo menos, é o que a Microsoft está gritando até seus pulmões explodirem.
"Nota:
para aqueles que só querem comprar um Surface, ele está disponível para
pré-venda a partir de hoje nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha,
França e Austrália. O modelo de 32 GB custa US$500 (mais US$100 para a
capa obrigatória com teclado), enquanto o modelo de 64 GB custa US$700,
incluindo o teclado. Você pode comprá-los direto da Microsoft aqui."
A
Microsoft criou uma loja de mentirinha, uma área de compras
indeterminada em Redmond, que é um protótipo de como será cada Microsoft
Store quando o Surface for lançado em 26 de outubro. Ela fica escondida
do mundo exterior e isolada por forças paramilitares corporativas: eu
tive que grudar um post-it com meu nome no meu celular e entregá-lo
antes de entrar.
Eles
chamam isto de “loja zero”. É uma loja falsa, mas a ideia é bem real:
tudo é Surface. Essa palavra está em toda parte. Quase metade do local é
coberto por tablets. E na parte de trás, em uma tela bem grande, nós
vimos uma prévia do primeiro anúncio para o novo produto da Microsoft:
um minuto de uma montagem dirigida pelo cara que nos trouxe Ela Dança,
Eu Danço 2 e um dos filmes de GI Joe. São 60 segundos de pessoas girando
com Surfaces impecáveis, clicando os teclados no tablet, girando,
sorrindo, piscando, girando de cabeça para baixo, um frenesi insano de
tablet, um híbrido maluco de O Tigre e o Dragão com um final da
temporada de Glee.
Mas
no anúncio não há qualquer menção de como você realmente usaria o
tablet, nem porque você deveria. Enquanto isso, a Microsoft me deu um
meticuloso tour guiado de suas instalações de pesquisa e
desenvolvimento, hermeticamente fechadas ao público, para mostrar quanto
esforço foi empregado no Surface para torná-lo um computador superfino
deste milênio em vez de um acessório de dança.
A
Microsoft apresenta o Surface com o orgulho que pais teriam de um bebê.
Seus criadores, na verdade, se referem ao tablet como “bebê” em várias
ocasiões.
E
não há razão para duvidar disso: a Microsoft despejou uma quantidade
sem precedentes de dedicação e consideração no Surface, facilmente (e
ostensivamente) igualando o fanatismo em design que a Apple teve com o
iPhone 5.
O
Surface deixa clara a dedicação necessária para criá-lo. A Microsoft
agonizou em decidir o tamanho da tela, oscilando entre frações de uma
polegada para atingir proporções ideais na multitarefa do Windows 8 e
RT. Ele usa uma técnica de fusão proprietária para que ele forneça uma
qualidade de imagem global melhor que do iPad Retina, mesmo com uma
fração da resolução e pelo que vi, realmente é muito bom.
O
Surface tinha que dar exatamente a sensação de um livro, inclusive da
lombada. O kickstand, segundo nos explicaram líderes do projeto, foi
cuidadosamente ajustado para soar de forma exatamente perfeita quando
fechado. Eles ficaram obcecados com este clique durante o processo de
design. A princípio, isso parece apenas papo de marketing. Mas à medida
que eles explicam, parece loucura, até você perceber que a empresa
verdadeiramente está se importando em fazer algo bonito e quase
perfeito.
O Surface tem uma dobradiça extra de design personalizado feita exclusivamente para criar esse som particular de clique.
A
equipe de design industrial é comandada por um equivalente teutônico de
Jonny Ive, com óculos de design tão meticuloso quanto o Surface. Ele
nos orientou pela odisseia criativa da Microsoft, cujo espírito começou,
segundo eles, antes do Windows 7 estar pronto. Era uma época na qual,
como aponta o representante da Microsoft, havia “uma completa ausência
de um iPad”.
A
Microsoft diz que o Surface é o avanço lógico de tudo que é Microsoft
tudo o que é computador, independente da forma que tenha. Não se trata
de um jeito caro de jogar Temple Run ou assistir filmes em um avião,
dizem os representantes de Redmond. Trata-se de fazer e criar coisas,
como e-mails, textos, apresentações. Coisas que podem lhe trazer
dinheiro, notas, e gratificação. Nada de Zooey Deschanel usando Siri,
nem apresentações de dança. Há um termo chato para isso: produtividade.
Criação, em vez de consumo.
Em
outras palavras: vá se ferrar, iPad, eu posso criar coisas neste tablet
aqui. Vá se danar, Kindle Fire HD: eu quero escrever livros, não apenas
ler. Pelo menos, é assim que a Microsoft gostaria que você visse o
Surface.
E
talvez isso não seja apenas blefe. Afinal, o Surface roda Windows, e
por mais não-sexy que isso possa parecer, em 2012 ele é realmente bom. O
Windows RT, a versão tablet-izada do Windows 8, dá ferramentas básicas
para usar no desktop, além das maravilhas feitas para toque na nova
interface Metro do Menu Iniciar. Assim, você pode deslizar entre feeds
do Twitter e mapas com extrema fluidez a touchscreen do Surface é uma
das melhores e das mais sensíveis que eu já usei e depois baixar os
pulsos para digitar como você faria em um teclado de desktop.
A
Touch Cover, que finalmente pudemos testar (em condições
supervisionadas de laboratório), combina um teclado supersensível
ativado por pressão, além de um trackpad, em uma camada bastante fina.
Com certeza não é fácil de usar no começo. Leva prática. Erros de
digitação eram frequentes, e a capa parecia estranha quando coloquei
minhas mãos sobre ela pela primeira vez.
Mas
em dez minutos eu já sentia meu cérebro lentamente aprendendo, já não
contando com a sensação de botões sendo pressionados, apenas deixando os
recessos e as letras gravadas a laser guiarem meus dedos. Ele nunca
registrou letras que eu não teclei. E você pode descansar os punhos nele
sem digitar “aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa” por acidente. Ele
conta com software que detecta seus toques apenas quando você digita de
forma intencional.
A
Microsoft diz que você leva cerca de cinco dias para alcançar sua
velocidade máxima de digitação em um Surface. Eu não passei tanto tempo
assim digitando para ter certeza, mas isso parece bem provável. Afinal,
só de pensar em trabalhar de verdade em um iPad, ou compor nele um
e-mail maior que “blz vlw” me deixa com medo. Em um Surface, parece ser
apenas uma subida agradável pela curva de aprendizado. Seria mais ideal
se o teclado funcionasse perfeitamente logo de cara? É claro que sim.
Mas, se o esforço para usar uma capa/teclado tão fina for o que a
Microsoft promete, vai valer a pena.
Nós
não fomos autorizados a fotografar tudo o que vimos, o que é uma pena.
Mas segue uma lista de pontos de destaque sobre design, a melhor
alternativa a um JPG:
- O design do Surface que conhecemos agora foi inicialmente inspirado
por um caderno Moleskine. Depois, eles usaram um caderno universitário
com espiral, cortado com uma faca e usando fita adesiva para se parecer
com o Surface atual.
- A equipe de design industrial, que a Microsoft diz nunca ter recebido
visitantes de fora antes, se entreolhavam com uma mistura de cautela,
paranoia e terror quando entramos, como uma tribo indígena isolada que
trocou lanças e flechas por manuais tipográficos e amostras de escala
Pantone. Eles estavam repletos de esboços de protótipo e diagramas de
planejamento extremamente complexos. O amor deles era manifesto.
- Falando em protótipos, o líder da equipe diz que eles passaram por
cerca de 300 modelos antes de chegar à forma atual do Surface. Eles
ainda estão empilhados uns sobre os outros como revistas antigas, no
estúdio de design do Surface. Pilhas e pilhas.
- Alguns desses modelos eram incrivelmente feios: um deles estava coberto de acabamento cromado reflexivo.
- O modelo atual é totalmente bonito. Uma das peças mais sutis, poderosas e adoráveis de design que eu já segurei.
- O som que o teclado faz quando tocado também foi objeto de agonia
para a Microsoft: ele tinha que soar tão bem quanto sua sensação de
toque. Eles conseguiram. O teclado, diz a Microsoft, também sabe quando o
trackpad está sendo usado como barra de espaço. O teclado é esperto.
- A equipe imprimiu um teclado em papel, e os deu para voluntários em
grupos de foco digitarem. Eles digitavam com tinta nos dedos: dessa
forma, a equipe conseguiu criar um layout ideal para os botões da Touch
Cover, para que qualquer um possa digitar nela.
- A construção proprietária do Surface em magnésio é forte pra caramba.
Em um dado momento, um líder de equipe trouxe um Surface com rodas de
skate afixadas nele, e andou em cima dele. O Surface mal se curvou.
- A Touch Cover, feita de poliuretano personalizado, é lavável. Você
pode derramar molho sobre ela e, em seguida, colocá-la na torneira.
- A Microsoft está obcecada com chanfros. Talvez 2012 seja o ano do
chanfro. A equipe passou muitos minutos falando sobre a decisão de usar
um chanfro de 0,3mm na borda superior do Surface, e porque mudaram para
um chanfro de 0,5mm. Eles até admitiram que as bordas do palco onde o
Surface foi revelado pela primeira vez imita o chanfro exato do Surface.
Você está percebendo como isso é insano? O palco era chanfrado. Você
está percebendo como a Microsoft adora este tablet? (Não precisa ter
vergonha em googlar “chanfro”.)
Eis
tudo que você realmente precisa saber, e tudo o que podemos revelar
neste momento: o Surface é realmente lindo, e fantasticamente concebido à
primeira vista, e à segunda vista. Mas apesar da insistência da
Microsoft em sua obsessão pelo design, a empresa obviamente está um
pouco insegura. As comparações com o iPad, além das defesas preventivas
contra ele, foram inúmeras. E isso depois de dizerem que o Surface está
em uma categoria própria (não está, a menos que sua definição ficam tão
restrita que só existe você na própria categoria).
A
Microsoft é uma empresa possessa por um espírito que quer design melhor
nos computadores. É uma empresa cujos executivos literalmente nos
reuniram em um auditório e balançaram o Surface segurando-o pela Touch
Cover, para mostrar como as dobradiças são fortes, e que não vão se
soltar. Dito e feito. A Microsoft está ansiosa e feroz, criando todo um
teatro para a imprensa e para todos.
Ela
só não percebe que talvez nem precise. Ponha de lado todas as neuroses e
mania por design, e o Surface dá todas as indicações de ser um
dispositivo fantástico. E se a Microsoft divulgá-lo bem, ela pode vender
o bastante sem se estressar tanto, ou sem exagerar no marketing. O
Surface pode ser o gadget mais interessante em um bom tempo. Supondo,
claro, que ele corresponda às suas enormes expectativas. Eu acho que
vai.
Fonte: Gizmodo