sábado, 21 de abril de 2012

Enfim, a guerra dos aplicativos chega no mundo das Smart TVs

Assim como no mercado de smartphones, os apps são o centro das atenções. Saiba o que as fabricantes estão fazendo para oferecer mais opções para seus clientes

O mercado atual tem forçado os fabricantes de eletroeletrônicos a se preocupar, cada vez mais, com os softwares disponíveis para seus dispositivos. Este, aliás, foi o "pulo do gato" de Steve Jobs ao criar uma loja de aplicativos para o seu bem-sucedido iOS. O Google veio na cola, disponibilizando um ambiente propício para desenvolvedores criarem softwares compatíveis com o seu Android e, mais recentemente, acompanhamos a Microsoft em sua trajetória para fazer o mesmo com o Windows Phone.

No caso das SmartTVs, o cenário não é muito diferente. As fabricantes brigam não só pela melhor tecnologia para a exibição de imagens, mas também pela quantidade e qualidade dos aplicativos que estarão disponíveis para seus clientes. Hoje, pode-se dizer que a oferta de aplicativos é um dos fatores que definem a compra de um televisor. Mas, como conquistar esse grupo de desenvolvedores e fazer com que eles foquem seus trabalhos na plataforma de uma fabricante em específico?

Um agravante no mercado das SmartTVs é a variedade de plataformas - apps feitos para TVs de uma marca não funcionam nas telas de outra fabricante. Isso dificulta a ascensão do mercado de desenvolvimento de apps para este tipo de aparelho. Os múltiplos sistemas e linguagens segmentam, eo resultado é uma oferta menor de apps e menos popularidade entre os consumidores.

Marcas disputam desenvolvedores

No mundo dos smartphones, a Samsung é uma das fabricantes que mais investem no desenvolvimento de aplicativos próprios - tirando a Apple, obviamente. Com a próxima geração de Smart TVs, que deve chegar em junho, desenvolvedores ganharão mais uma frente de criação de conteúdo. Segundo Marcelo Natali, gerente de conteúdo Smart TV da empresa, as televisões conectadas estão entre os grandes destaques do momento. "Recebemos propostas tanto de desenvolvedores independentes quanto solicitações de parcerias para a oferta de serviços por parte de empresas. Recentemente, tivemos o lançamento dos aplicativos da Tecnisa e do Bradesco", comenta. Para ressaltar a demanda, Natali diz que o número de desenvolvedores externos no ecossistema da Samsung cresceu, em dois anos, de 550 para 25 mil. "Desde o ano passado estamos reunindo esforços para criarmos o que chamamos de 'ecossistema Smart TV'. Isso envolve a união entre o desenvolvimento da plataforma Smart TV com avanços de hardware. Nossos próximos aparelhos, por exemplo, terão processadores dual core. Isso dará mais recursos para os programadores criarem", explica.

Durante o Samsung Forum 2012, realizado em Lima, Peru, o Olhar Digital teve acesso a alguns dos novos modelos de Smart TVs da empresa, que representam bem o ecossistema mencionado acima (veja impressões aqui). Nesses aparelhos, existe o que eles chamam de "Smart Content", um conceito focado especificamente na criação de aplicativos - internos e terceirizados - com o intuito de dar mais robustez à oferta de televisões inteligentes da empresa. "Quando introduzimos as Smart TVs no Brasil, há um ano, tínhamos apenas 50 aplicativos na nossa plataforma. Hoje, já passamos de 360", conclui.

Já a LG é, de todas as fabricantes, a que mais procura disponibilizar ao desenvolvedor o passo-a-passo inicial para desenvolvimento de software. Além disso, a companhia oferece as chances mais simples de se ganhar dinheiro com aplicativos. De acordo com Milton Neto, gerente geral da área de Smart TVs da LG, a ideia da empresa é construir um ecossistema de desenvolvimento, em que a fabricante seria nada mais do que um canal de distribuição.

"Nós procuramos diversos desenvolvedores para ensiná-los sobre a plataforma LG, que usa Flash e HTML5 como ferramentas primárias. Também auxiliamos na otimização, como tamanho de fontes e resolução para TVs em alta definição etc. Hoje, a plataforma da LG permite que você venda seus aplicativos, gerando negócios para os autores dos softwares", disse o gerente.

A LG também faz o mapeamento de programadores autônomos e empresas de programação, ensinando-os a usar seu SDK (Software Development Kit). "O que fazemos é convidar novos profissionais para desenvolvimento. Como pensamos mais na construção de um negócio do que na promoção de aplicativos específicos, preferimos focar mais no desenvolvimento do ecossistema de rentabilização para desenvolvedores como um todo", completou.

Entretanto, a LG é a que conta com menos parceiros, limitando-se a numerar dez empresas de desenvolvimento, sem citar nomes. Questionado sobre a possibilidade de programadores autônomos criarem conteúdo, Neto disse que há abertura para isso. "Nós acreditamos muito no desenvolvimento da nossa plataforma, que também permeia home theathers e Blu-ray players. Eu diria que continuamos no caminho do desenvolvimento da plataforma e acreditamos que nosso conteúdo será um diferencial percebido pelo consumidor", finalizou.

A Philips, por sua vez, aposta em uma maneira mais simples de ver TV. Segundo o gerente da área de Smart TVs da companhia, Luiz Bianchi, como a fabricante não possui uma loja de aplicativos própria, não há necessidade de login, senha, inserção de cartão de crédito, confirmação de compra etc. "Nossas TVs não têm HD para armazenar aplicativos pois acreditamos que, ao comprar um aparelho, você quer ter uma experiência mais simples de assistir TV", ressalta.

Bianchi ainda explica que a filosofia da Phillips é dar total autonomia ao criador do software, já que a plataforma de suas Smart TVs é baseada em tecnologias open source. "Não queremos controle algum sobre os apps que o desenvolvedor criar. A Phillips conta com um portal específico onde qualquer profissional pode se cadastrar e baixar os aplicativos e o SDK, criando conteúdo relevante para exibição em uma TV de alta definição", explica.

No entanto, se por um lado a Phillips agrada pela independência oferecida ao desenvolvedor, há um potencial para se torcer o nariz para ela. Bianchi é enfático em dizer que, por não haver uma loja de aplicativos, também está impossibilitada a venda direta de software. Todos os aplicativos disponíveis no hub dos televisores Phillips são distribuídos de graça. Ou seja, para o desenvolvedor que quer ganhar dinheiro, a Philips pode não ser uma boa opção.

"Uma saída é vender conteúdo in app, ou seja, oferecer o aplicativo de graça, mas vender certas partes dele por um preço razoável. Exemplo disso são os serviços de streaming,  você não paga pelo software, mas será cobrada de você uma assinatura de acesso ao conteúdo", comenta.

Apesar da visão peculiar, para Bianchi, todas as fabricantes estão se aprimorando mais e mais na oferta de informação e interação com seus produtos, o que, no caso da Phillips, torna compradores casuais de televisores em heavy users. "Não posso dar números exatos, mas 60% dos nossos consumidores tornam-se fiéis à nossa empresa. Dentro desse contexto, o mercado desenvolvedor pode se beneficiar dessa evolução também. Acredito que haverá muito espaço para que desenvolvedores exercitem a criatividade produzindo conteúdo relevante para uma TV", conclui.
Unindo forças - e plataformas

Fabricantes como a LG, Phlips e Sharp anunciaram em setembro de 2011, durante a IFA (feira de tecnologia que acontece em Berlim, Alemanha), que vão unir esforços para criar requisitos técnicos comuns para suas Smart TVs. A ideia é que os desenvolvedores criem uma única vez e tenham a possibilidade de disponibilizar o app em diversos aparelhos. A iniciativa das três fabricantes quer que suas TVs conectadas usem padrões abertos como HTML5, CE-HTML e HbbTV. O primeiro passo é lançar um kit de desenvolvimento de software comum, que vai facilitar a vida do desenvolvedor e alegrar os usuários, que terão mais ofertas de apps para suas TVs. Há quem acredite que a linguagem unificada pode se tornar realidade, mas existem aqueles que acham que o mercado das Smart TVs será bastante parecido com dos smartphones: uma guerra de sistemas. É o caso do programador Maurício Junqueira, que já criou aplicativo para TVs da Samsung e LG, e diz ter sofrido um pouco para conseguir aprovações.

Ele comenta que sempre vão existir fabricantes não adeptas à linguagem unificada. Mas, por outro lado, é possível surgir um sistema que abrigue algumas marcas, como acontece com o Android nos celulares inteligentes. A plataforma do Google, inclusive, também está migrando para televisões e pode ser uma forte candidata na união das fabricantes. A Samsung e LG, que já são parceiras da companhia no mercado de mobilidade, não teriam grandes dificuldades para embarcar o Android em suas TVs também.

O fato é que ninguém sabe ao certo o futuro das TVs inteligentes, até porque os aparelhos são bastante novos no mercado. Porém, é inegável que a maioria das empresas já perceberam que investir em aplicativos é o caminho para o sucesso e, portanto, estão criando soluções para fortalecer seus produtos neste quesito.

Fonte: Olhar Digital